Archive for ‘Divagações’

08/02/2011

My little piece of heaven

If there’s any kind of heaven out there, it’s gotta be somewhere with lots of books, just like my little piece of heaven:

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03/13/2011

Haters

Embora acredite que todos nós, sem exceção alguma, possuímos preconceitos, não há justificativa alguma para expô-los e nem para agirmos com hostilidade a quem  é o objeto ou a causa de nossos preconceitos ou ódios.

Gosto sempre de lembrar aos meus alunos que a internet é no man’s land (embora saiba que há sete pessoas que têm o poder de resetar todo o conteúdo dela,  não creio que um dia eles irão fazê-lo) e que, portanto, todo cuidado é pouco. Nela é possível encontrar páginas, fóruns e todo tipo de sortimento que propague o ódio a qualquer coisa sem o menor pudor ou escrúpulo. Quem há de verificar tais páginas, sites e conteúdos? Há algum responsável por isso?

Reiterando a primeira frase, todos possuímos algum tipo de preconceito, quer seja contra pagode (ou pagodeiros), contra negros, contra quem escreve com erros gramaticais, etc. Diria que, até aqui, talvez isso seja OK; o problema se encontra em depreciar as pessoas que gostam de pagode, quem comete erros gramaticais, etc, de forma mais abertamente e pública. O que há de errado em seu amigo gostar de pagode? Ele será menos seu amigo se gostar disso? Se seu irmão escreve tudo errado, você ainda deixaria de amá-lo? Cortaria relações com ele? Então por que você haveria de não se importar com o fato de seu irmão ouvir esse tipo de música, mas declarar uma guerra de ódio contra todos os outros que o fazem? E por que há tantas pessoas que perdem seu tempo humilhando, apontando os erros de e expondo os outros?

Sou extremamente contra esses Pasquales ou Hitlers ambulantes; acontece que a internet está servindo para que a propagação desse ódio se torne mais intensa, mais aberta, com pessoas se expondo sem medo.  Acredito que pouquíssimos pais controlam o que seus filhos fazem online, o que agrava ainda mais a situação. Obviamente também há muitos adultos que fazem sua parte por aí.

Concentro esse post principalmente na parte da linguagem, ou seja, no preconceito linguístico existente, até pelo caráter do blog. Para ilustrar melhor tamanho “infundamento” em aceitar formas diferenciadas de escrita e fala, eis o autor que, a meu ver, melhor representa esse expoente: Manoel de Barros. Aqui vai um pedaço de sua obra-prima:

 

Ocupo muito de mim com o meu desconhecer.

Sou um sujeito letrado em dicionários.

Não tenho que 100 palavras.

Pelo menos uma vez por dia me vou no Morais ou no Viterbo –

A fim de consertar a minha ignorãça,

mas só acrescenta.

Despesas para minha erudição tiro nos almanaques:

– Ser ou não ser, eis a questão.

Ou na porta dos cemitérios:

– Lembra que és pó e que ao pó tu voltarás.

Ou no verso das folhinhas:

– Conhece-te a ti mesmo.

Ou na boca do povinho:

– Coisa que não acaba no mundo é gente besta

e pau seco.

Etc

Etc

Etc

Maior que o infinito é a encomenda.

– BARROS, Manoel de.  O Livro das Ignorãças, 2009. p. 27.

 

Não, não citarei Marcos Bagno aqui. Este, além de ficar na imagem decorativa do post, fica para quem quiser se aprofundar mais no assunto e é de leitura obrigatória para os estudantes de Letras, embora ache que deveria ser leitura obrigatória a todos os professores, sem exceção.

10/05/2009

E tudo mudou…

Achei lindo esse texto do LFV que encontrei na apostila da faculdade. Segue aqui:

E tudo mudou…

O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O O brilho virou gloss
O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone
A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
“Problemas de moça” viraram TPM
Confete virou MM
A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse
Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal
Ninguém mais vê…
Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service
A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão
O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD
A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email
O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do “não” não se tem medo
O break virou street
O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também
O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bis Polícia e ladrão virou counter strike
Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato
Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou
em Maria Rita
Gal virou Fênix
Raul e Renato, Cássia e Cazuza, Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira…
A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!
A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz… … De tudo.
Inclusive de notar essas diferenças.

– Luís Fernando Veríssimo

04/22/2009

Amor de Perdição

Estou na metade do livro e só agora peguei gosto por ele mesmo. É aquele tipo de literatura “must read” por ser um clássico do romantismo, no qual a mocinha e o mocinho não podem ficar juntos ou porque um deles é pobre ou porque há briga entre as famílias de ambos. É quase desnecessário ler tais títulos porque o enredo é basicamente o mesmo, como dito acima. Acontece que, vira e mexe, você se depara ocmo umas frases de efeito tão impressionantes, que aí sim é que você pensa que esses clássicos devem ser lidos, até porque o nome já diz: clássico é clássico, não tem de ser cool, como a literatura best-seller (pelo menos de adolescentes) de hoje em dia demanda. Eis a frase que me encantou:

Orgulho ou insaciabilidade do coração humano, seja o que for, no amor que nos dão é que nós graduamos o que valemos em nossa consciência. – BRANCO, Camilo Castelo: Amor de Perdição, pp. 70.

Vai dizer que isso não faz bem pro ego, esse orgulho ou a tal insaciabilidade humana?

Sinceramente, para ler esse livro tive que ter muita força de vontade. Me foi pedido para lê-lo durante esse semestre na faculdade para que eu faça uma resenha sobre ele, e as primeiras páginas foram as mais sofridas e difíceis. É aquele tipo de leitura que não flui, talvez por ter um vocabulário de época que até nos dicionários de hoje em dia não se encontra tais definições, mas creio que a principal dificuldade de leitura, pelo menos por parte dos adolescentes, seja a tal do maturidade intelectual, ou do conhecimento prévio, no qual é feito vários relatos e/ou referências a certos eventos que exigem um certo conhecimento prévio por parte do leitor, e aí dificulta ainda mais a leitura por ter de fazer pausas e reflexões.

De qualquer forma, vale a pena sim ler esse tipo de livro, pois mesmo que o enredo seja o mesmo, o conteúdo sempre traz surpresas e faz valer o tempo (bem) gasto e as reflexões feitas, o duro é convencer as pessoas que não têm hábitos de leitura a ler esses tipos de livros. Sabecumé, nessa geração de The Secret e afins, cremos que a força do pensamento é tudo, mas só quero ver onde fica a tal força de vontade…

12/04/2008

Gatão Apaixonado

O mundo uiva e enterra as garras nos nossos corações. Chamamos isso de memória.

As palavras contêm o passado da maneira que o compensado contém o vôo? Somos machucdos a cada dia de nossas vidas por colisões silábicas, nossos espíritos vergastados por combinações de vogais e consoantes? Num coquetel, digamos, ou num jogo de futebol, ou no casamento da nossa filha, você sentiria a Morte penetrando nas suas costelas se alguém pronunciasse o nome do seu ex-marido? Uma cor pode provocar sonhos ruins? Um milharal pode fazer você chorar? Nós irradiamos palavras pelas vidas que levamos? (…) Uma palavra pode fazer o seu coração parar, como se fosse arsênico?

Todos nós, sem dúvida, temos os nossos demônios. De um jeito ou de outro, somos perseguidos pelos fantasmas do nosso próprio passado, nossos amores perdidos, nossas burradas, nossas promessas quebradas, esposas entristecidas e filhos desaparecidos. E uma única tulipa é suficiente para nos lembrar disso.

 

Essas frases foram tiradas do livro Gatão Apaixonado, por Tim O’Brien.
Não, não liguem pro título. É o livro lindo que estou lendo. O nome é feio, confesso. Mas já que não se pode julgar um livro pela capa, tampouco devemos julgá-lo pelo título. Paguei R$9,90 nas Lojas Americanas, há algum tempo, e só o comprei porque o personagem principal é um catedrático de linguística – algo que o autor-narrador faz questão de reiterar ao longo da história. Impressões negativas à parte, o livro é lindo. Lindo lindo lindo. Homem com sensibilidade é tudo. E o que dizer de um homem perdidamente apaixonado, que de repente vê-se renegado, traído, trocado… daí surgem-se as reflexões em meio às histórias de sua vida, que mexeram com a minha também. Essas citações foram as melhores que li até agora, já que ainda não terminei o livro. É que não podia ficar sem dar meu testemunho… se eu mostrar pro meu namorado que estou lendo isso, aposto que ele iria rir da minha cara, no mínimo. Não me importa, porém. Só nós, mulheres, sabemos o que nos toca.
Portanto, me deem licença que eu vou logo ali retomar a minha leitura. 😉