Archive for ‘Estudos’

03/06/2012

Couldn’t agree more

A relação entre professor e aluno deveria mudar para uma relação entre professor e estudante, para deixar de ver o aluno como alguém que precisa ser alimentado (sentido etimológico da palavra aluno) para se pensar no estudante como alguém que busca alguma coisa através de sua participação em uma atividade sociocultural, i.e., o ensino e a aprendizagem de LI em sala de aula. Uma interação que acredite na capacidade do estudante em superar suas dificuldades terá importantes conseqüências para a maneira como o ensino será abordado e como a aprendizagem acontecerá. Esse é um assunto que merece ser discutido com professores para que a interação entre professor e estudante possa evoluir dentro da sala de aula.

Linguagem & Ensino,v.10,n.1,p.47-86,jan./jul.2007

01/12/2009

Onze fatos sobre língua e linguagem

Tradução livre, por Ludmila Prates.

(Estas são as revisões de algumas idéias primeiramente formuladas em uma Conferência sobre Linguística e Aquisição da Linguagem pela MLA (Modern Language Association of America), em maio de 1963.)

1. Fala é um ou mais sons feitos pelos seres humanos para fins comunicativos. Linguagem é comunicação1.

2. Idiomas são diferentes, não somente por terem diferentes palavras para coisas diferentes, mas pelas diferentes formas de disposição das palavras para se expressar perante à realidade.

3. Uma língua é mais do que somente uma sequência de palavras; pessoas também se comunicam por outros meios através da estrutura, entonação, agudeza de som e pausas.

4. Mudanças na linguagem dependem do tempo, lugar, nível social e estilístico. Essas mudanças não corrompem a língua, pois são características intrínsecas de todos os idiomas.

5. Fala e escrita são diferentes, embora relacionados, sistemas de linguagem. Em todas as línguas, a fala precede a escrita. A maioria dos idiomas no mundo ainda não possui um sistema de escrita.

6. Língua não tem nada a ver com raça e etnia. Povos primitivos não falam línguas “primitivas”. As línguas de culturas simples (“povos primitivos”) não são necessariamente mais simples do que as línguas de culturas complexas.

7. Inglês soa tão estranho para um estrangeiro que não fala inglês quanto uma língua estrangeira em relação a um falante inglês monolíngue.

8. Línguas diferentes têm tabus diferentes. Em inglês, Good Lord! soa (no som) mais suave do que Good God!, embora tenham o mesmo significado. Em hebraico antigo, a palavra para Deus, “IHVH” era não mencionável; portanto, sempre usavam outra palavra para substituí-la.

9. Palavras para “a mesma coisa” em dois idiomas não são “igual uma à outra”, ao menos que ambos o significado e a conotação correspondam, o que raramente acontece.2

10. Significado lexical (vocábulos), expressos pela seleção de palavras (homem alto, homem baixo), devem ser discernidos de significado gramatical, expresso pelas inflecções (falar, falei), ou disposição na frase (em português, por ex.: autor defunto e defunto autor não significam a mesma coisa se analisados pela ordem das palavras).

11. Nenhuma língua é propriamente difícil. Se a fosse, os povos que a falam rapidamente iriam simplificá-la. Qualquer criança normal tem um certo controle sobre sua própria linguagem quando vai para a escola.

Notas

1. Language em inglês abrange três possível traduções: língua, idioma  e linguagem. Língua é e representa, além da fala, o idioma que certo povo fala, enquanto a linguagem abrange a escrita e suas formas de expressão, como linguagem de sinais, linguagem cinematográfica, matemática, etc.

2. Em inglês, tomemos como exemplo a palavra “egg”. O correspondente para a mesma palavra, em português, seria “ovo”, embora se disséssemos “bad egg” não estaríamos nos referindo um “ovo mal” em inglês, no sentido de estragado e/ou podre, mas sim a um “mau sujeito”, algo que não corresponde à versão em português para “ovo mal”.

Referência bibliográfica

FINOCCHIARO, Mary e BONOMO, Michael. The Foreign Language Learner: A Guide for Teachers. Regents Publishing Company, Inc, 1973. 8 p.

10/22/2008

Sobre o tempo

Hora ou outra aparece algum aluno que pergunta “teacher, você conhece algum livro de Inglês que é bom pra estudar em casa?”, sendo que este “em casa” se refere aos livros que servem para o atuo-estudo, algo que eu recomendo veementemente por desafiar e instigar a autonomia do aluno. Pois então, depois de muito trabalho, a página se encontra aqui. Vale lembrar que eu mesma só fiz um ano de curso de inglês na escola em que estudava, na APM Polivalente, e fiz uma entrevista oral para saber em qual nível eu me encontrava, e acabei indo para o intermediário. Achei ótimo, para alguém que nunca havia pisado numa escola do tipo. E se alguém me pergunta quanto tempo leva para aprender uma língua estrangeira, eu vos digo: o tempo é equivalente à sua dedicação. O que vale é a prática, o estudo, não o número de horas semanais que uma escola de inglês tem a oferecer. Neste caso, tanto faz ser uma ou duas vezes por semana, pois se você estuda inglês somente nas horas de aula do curso, acredito que esteja perdendo tempo e dinheiro. Principalmente para os “apressados”, não cobre dos outros (lê-se “o professor”) o que não lhe convém. Se você está disposto a aprender uma língua estrangeira, não espere que lhe apareçam oportunidades, crie você mesmo esse momento oportuno e se esforçe por si mesmo. O tempo deve ser nosso aliado, não nosso inimigo…

E se alguém me perguntar se é possível aprender alguma língua sozinho, num método autodidata, eu direi que é possível. Tomando o meu caso como exemplo, não só com inglês mas também com o francês e o latim, que acredito serem línguas bem mais densas, no sentido de “pesado”, acredito sim, no aprendizado independente da língua. Obviamente alguns me diriam que eu estaria desacreditando na minha própria profissão, ou sugerindo que as pessoas não se matriculem em cursos de idiomas, mas a questão que vale é outra: nem todas as pessoas possuem aptidão para um aprendizado autônomo de línguas. Veja bem, essa é a minha opinião. Não tenho dados científicos e tampouco compraváveis do que estou dizendo, apenas estou expressando a minha opinião. Penso que, assim como não tenho aptidão para aprender matemática, química e física sozinha, algumas pessoas encontrarão essas mesmas dificuldades em outros campos, como o aprendizado de línguas, por exemplo.

O professor no curso de idiomas tem um papel similar ao professor de escolas normais (lê-se escolas do ensino fundamental, médio e etc) mas tem mais a ver com motivação do que qualquer outro fator. É normal ao perguntar aos alunos “Why are you studying English?” (Por que você estuda inglês?) eles responderem “Because I need it at work” (porque o necessito no trabalho) ou “Because it’s important” (porque é importante). Apenas uma ínfima fração dos alunos, algo em torno de 5%, dirão: “Because I like it” (porque eu gosto de inglês). Obviamente esse fator motivacional faz muita diferença no aprendizado, pois aluno desmotivado = aprendizado fracassado. Quantos alunos que precisam de inglês já passaram por várias escolas? Isso é algo normal entre os desmotivados. Ou isso ou eles simplesmentem desistem, pensam que não é algo para si, que não é capaz, etc. Eis porque acho que o principal papel do professor de idiomas é a motivação, pura e simplesmente. É ela quem instiga, provoca, suscita o pensamento à reflexão, e principalmente, motiva. Sugiro então que, antes de se matricular em alguma escola de idiomas, procure assistir às aulas de alguma turma e veja se o professor e o curso são interessantes o suficiente, a ponto de te querer fazer voltar para a próxima aula. E é claro, depois de ter se matriculado, se esforce no curso e estudo o dobro em casa!

😉

10/10/2008

Ter ou não ter?

Vira e mexe me deparo com alunos escrevendo e falando “I have x years old“. Esse é um dos erros mais banais em inglês, e o mais corriqueiro, eu diria. Se por ora aqui no Brasil dizemos “eu tenho x anos“, o mesmo não é válido na terra do Tio Sam. Lá, devemos sempre usar “I am/I’m x years old“. Acho válida a forma, pois se formos pensar que nós não temos anos – no sentido de posse – mas somos x anos velhos, já que a velhice é algo que se adquire com o tempo e não algo que se ganha, como um prêmio de loteria. Já pensou se alguém lhe falasse “parabéns! Você foi contemplado com mais x rugas!”.

Mudando de assunto…

Há certos professores e lingüístas (ainda não me acostumei a escrever sem o trema, ok?) que defendem o não-uso da língua materna no ensino de língua estrangeira, pois dizem que tal uso pode acarretar em maus hábitos como traduzir literalmente certas frases e etc. Mas eu sou do contra. Acho que se fizermos um uso da língua materna com parcimônia e cuidado, ela só vem a agregar valores no aprendizado da nova língua. Acho digno se, ao aprendermos algo complexo, fizermos uma analogia ou mostrarmos um elo de semelhança entre uma língua e outra, só temos a ganhar. E ainda nos poupa tempo. Nada mais frustrante do que tentar explicar através de mil formas algo simplesmente inexplicável. Também não são todos que têm a habilidade de entender bem e assimilar a gramática, um “objeto” tão arbitrário das línguas. Dessa forma, sou defensora de uma práxis mais flexível em relação aos alunos e sou totalmente contra as metodologias prontas de escolas de idiomas. Pra mim, se uma metodologia não é flexível a ponto de não poder mudar nada no método de ensino e nem nas aulas, de nada vale nossos esforços. Sem querer fazer jabá, mas por já ter trabalhado numa escola com uma coordenadora metida à déspota e com uma metodologia retrógrada, recomendo veementemente a escola em que trabalho: Yázigi Internexus. Educação não é aprender regras e conteúdos, é muito mais profundo do que isso, é um lugar onde acima de tudo, há a construção do próprio conhecimento. Vide Paulo Freire, que não cito agora pois não achei meu livro dele e porque a internet está uma merd*** hoje.

10/07/2008

Vícios

Não, não é sobre vícios banais do tipo álcool, cigarro e drogas que irei falar, muito menos da canção do Charlie Brown Jr. – ecati! É sobre vícios de linguagem, cuja significação copio descaradamente do Wikipédia (apenas uma parte): Vícios de linguagem são, segundo Napoleão Mendes de Almeida, palavras ou construções que deturpam, desvirtuam ou dificultam a manifestação do pensamento, seja pelo desconhecimento das normas cultas, seja pelo descuido do emissor.

No ambiente de trabalho, com as pessoas as quais trabalhamos juntos, é inevitável deixar de reparar em certas características que elas (pessoas) apresentam: nos trajes, estilos, trejeitos e até no falar. E foi neste último que eu reparei numa colega de trabalho. Toda vez que ela usa o verbo precisar, ela o segue da preposição de. Preciso de ir ao banco! Preciso de fazer a lição. Preciso de fazer o pagamento (opa!). Eu, como um ser muito curioso, fiquei a refletir se a tal regência do verbo estava correta. Mas confesso, a preguiça me impossibilitou de achar a resposta o quanto antes fosse possível. Cá estou eu, hoje, depois de ter acordado com um espírito literário – culpa por ter ido dormir depois de ler Lima Barreto – resolvi investigar a tal questão: qual a regência verbal de precisar? Lá vou eu dar uma Wikipediada (verbo inventado por mim, prevendo o futuro, já que existe até Googlada). O tal erro de regência é chamado de solecismo, ao que o site diz: Solecismo é uma inadequação na estrutura sintática da frase com relação à gramática normativa do idioma. OK, Wiki, você já ajudou demais, mas gora é hora de apelar para o meu querido Manual de Redação e Estilo (O Estado de S. Paulo), por Eduardo Martins. Vou transcrever a parte referente ao verbo, que se encontra na página 247:

Precisar. 1— Precisar alguma coisa (indicar com precisão, particularizar): Não soube precisar o dia da partida. / Ele precisou suas necessidades. 2 — No sentido de ter necessidade, prefira a regência indireta do verbo: O país precisa de novos empregos. / Todos precisamos de estímulo no trabalho. / Precisa-se de empregados. / Este é o livro de que ele precisa. / Era tudo de que precisava. Com infinitivo, porém dispense a preposição: Precisamos sair. / A empresa precisa contratar novos empregados. / Eles precisam ir embora ainda hoje.

E não é que meu pensamento estava correto? Agora é não esquecer: antes do infinitivo, esqueça de. De que precisamos dele neste caso, né?

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Referências

Wikipédia: http://pt.wikipedia.org

MARTINS, Eduardo. Manual de Redação e Estilo. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 1990. 247 p.